quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A História da Apple




por Maximiliano Meyer

Qual a primeira coisa quem lhe vem à cabeça quando dizemos celular, smartphone ou até mesmo telefone o que você responde? Se você disse iPhone já estamos nos entendendo.

Mas o que fez um único modelo de celular (entre tantos outros no mercado) virar sinônimo para um produto tão amplo? O que fez, da mesma forma, o iPod virar sinônimo para reprodutor de músicas, iPad virar sinônimo de tablet, etc.?

A resposta poderia ser uma soma de fatores, como gênios do marketing, funções inovadoras, pessoas certas no lugar certo e na hora certa, ideias roubadas, métodos controversos, produtos exclusivos, únicos, etc. No artigo de hoje iremos tentar ver quais (ou todos) destes fatores levaram a Apple ao patamar que ela ostenta hoje. 

Mas e como uma marca se torna um mito? Uma referência cultural e objeto de desejo? O que faz um produto ser tão valioso apenas por ter o logo de uma maçã mordida em seus equipamentos? O que fez a Apple ser a empresa mais valiosa do mundo com a incrível marca de cerca de 464 bilhões de dólares? A tarefa é difícl, e talvez impossível, mas iremos tentar analisando a história da marca. Abordando seus lançamentos, produtos, líderes, etc. desde o começo. O caminho é longo, por isso dividiremos o artigo em partes.Bom, comecemos então:

Assim como a maioria das gigantes da tecnologia, a Apple foi fundada em 1976 por dois estudantes, um no colegial e outro na universidade da Califórnia, estamos falando dos sócios "Steve’s": o gênio, para alguns e uma fraude para outros, Steve Jobs e Steve Wozniak, respectivamente. O encontro dos dois foi inesperado, segundo o próprio Wozniak: “Nós nos encontramos pela primeira vez em 1971, durante meus anos de faculdade, enquanto ele [Steve Jobs] estava no colégio. Um amigo disse, 'você deve conhecer Steve Jobs, porque ele gosta de eletrônica e também faz pegadinhas.’ Assim, ele nos apresentou”, contou ele a ABC.

A marca teve como projeto inicial o computador Apple I, desenvolvido por Wozniak entre uma aula e outra na universidade. Embora bastante avançado e audacioso para a época (1976), o Apple I foi recusado pelas gigantes Atari e HP (para quem Steve Jobs havia trabalhado em um emprego de verão e Wozniak trabalhava em um emprego de tempo integral), que recusaram-se a comprar o mesmo, alegando que não enxergavam um mercado promissor para os computadores pessoais em um futuro próximo. Mesmo com a negativa, a dupla acreditou em seu produto e resolveu levar o projeto em frente, produzindo-o com recursos próprios.

No entanto, mesmo com todos os esforços da dupla o Apple I não teve boas vendas, totalizando um total de pouco mais de 200 unidades comercializadas. O preço é um caso à parte: US$ 666,66 dólares, uma brincadeira da dupla. Em valores corrigidos, o Apple I custaria um pouco mais de US$ 5.000. Mesmo com as vendas inferiores àquelas que seus criadores desejavam, os lucros sustentaram a Apple durante todo o ano seguinte, permitindo que eles tivessem aporte financeiro para trabalhar na produção e lançamento de versões mais potentes. Falando em potência, o Apple I tinha processador de 1 mega-hertz e 8kb de memória (4kb para carregar o interpretador Basic, e os demais para programas), expansível até 48kb, menos do que seu micro-ondas, hoje, ou seu controle remoto, certamente.


No primeiro computador da Apple era comercializado somente a placa em uma caixa de papelão, sem qualquer tipo de gabinete, por isso era comum que os Apple I fossem instalados dentro de caixas de madeira feitas artesanalmente, como esta acima.

Em 2005 estimou-se que existiam cerca de 30 a 50 unidades no mundo, sendo leiloados por até 50 mil dólares cada. Recentemente, em outubro de 2014, o museu Henry Ford comprou uma unidade em leilão por US$905.000, cerca de 2,2 milhões de reais. Segundo leiloeiros, o Apple I é a relíquia mais valiosa ligada ao mundo digital.

Como continuação de suas pesquisas a Apple apresentou o Apple II no ano seguinte. Com este modelo finalmente a Apple conseguiu alcançar o sucesso, apesar do alto preço para a época: US$ 1.298, cerca de 10.000 dólares em valores atuais.

Em suas configurações, o Apple II vinha com modestos 4 KB de memória, expansível até 52kb, e 12 KB de memória ROM, uma grande sacada para a época, já que assim ele podia armazenar um interpretador BASIC (linguagem padrão da época) e o software de bootstrap, lido no início do boot. Com isso era só ligar e imediatamente começar a programar ou carregar programas (no Apple I, era preciso primeiro carregar a fita com o BASIC, para só depois fazer outra coisa). Seu sistema de armazenamento tinha 120kb de espaço.

Detalhe: as placas expansíveis eram fabricadas por uma empresa recém formada que talvez você já tenha ouvido falar: Microsoft.

O Apple II já era bem mais parecido com um computador atual, pois vinha com as características que estamos acostumados a ver hoje em dia em uma máquina, como um gabinete de plástico e até um teclado incorporado. O computador foi lançado em uma série de versões diferentes, e entre as inovações apresentadas já no primeiro modelo, podemos citar a placa gráfica (com o máximo de resolução 280 x 192 e 6 cores) e o sistema de saída de som.


Um dos programas mais populares para o Apple II foi o Visual Calc, ancestral dos programas de planilha atuais

A linha Apple II se tornou tão popular que sobreviveu até o início dos anos 90, acumulando entre 5 e 6 milhões de unidades vendidas em 17 anos de produção, o que lhe concedeu o título de o computador pessoal por mais tempo produzido até hoje. O último lançamento da série foi o Apple IIC Plus, que utilizava um processador de 4 MHz e memória de 128kb, expansível até 1,25mb. Esta versão vinha também com um drive de disquetes de 3.5", bastante parecido com o último modelo disponível às pessoas até alguns anos atrás.





Com o sucesso do Apple II a empresa não perdeu tempo em desenvolver o sucessor, o Apple III. Com processador de 2 mhz e memória de 128kb, expansível até 512kb a promessa acabou se tornando um verdadeiro fracasso. Principalmente por não ter sido desenhado pelo mesmo criador dos modelos anteriores, Steve Wozniak, e sim, pela equipe de marketing da Apple, cuja única preocupação era serguir à risca as ideias malucas e devaneios de Steve Jobs.

Por causa disso, o Apple III saiu das fábricas cheio de defeitos. Por exemplo: não possuía ventoinhas de refrigeração (uma obsessão de Steve Jobs), e por isso esquentava rápido demais, travava constantemente, além de suas peças simplesmente se soltar. Como Wozniak, que já não aguentava mais Steve jobs falara depois, o Apple III era uma máquina que "tinha 100% de falhas de hardware". Por fim, o computador que custava US$ 4.340 vendeu somente 75 mil unidades, das quais 14 mil retornaram à Apple por defeitos e insatisfação dos clientes.

Paralelamente ao fracasso do Apple III, o Apple II fazia um enorme sucesso, permitindo à empresa começar a investir no desenvolvimento de computadores com interface gráfica, possibilidade de conexão em rede e mouse. A "ideia" afirma-se surgiu após uma visita de Steve Jobs ao laboratório da Xerox, onde computadores com interface gráfica já eram desenvolvidos desde a década de 70 (embora sem sucesso, devido ao alto custo). Essa visita de Steve Jobs à sede da Xerox é até hoje um dos casos mais polêmicos da história da computação, e nem é pela veracidade da história, que já foi, inclusive, confirmada pelo próprio Steve Jobs, veja o que ele disse certa vez; “Quer dizer, Picasso tinha um ditado que afirmava: ‘Artistas bons copiam, grandes artistas roubam’. E nós nunca sentimos vergonha de roubar grandes ideias.” Em outra oportunidade ele diria: “Eles estavam com a cabeça em copiadoras e não tinham a mínima ideia sobre o que um computador podia fazer. Eles simplesmente transformaram em derrota a maior vitória da indústria de computadores. A Xerox poderia ter sido dona de toda a indústria de computadores.”

E essas “inspirações” que a Xerox deu a Steve Jobs seriam transformadas em inovação no lançamento do seu novo modelo: o Apple Lisa (nome da filha de Jobs e mais uma de suas excentricidades), em 1983. O modelo saía de fábrica com as seguintes configurações: processador de 5 MHz, 1 MB de memória RAM, dois drives de disquete de 5¼ de alta densidade, HD de 5 MB e um monitor de 12 polegadas, com resolução de 720 x 360. Uma configuração excepcional à época. Outro ponto chave do Lisa é que este modelo contava com uma suíte de aplicativos de escritório semelhantes ao que o Office faz por nós hoje (imagem acima). O ponto negativo deste modelo era o preço: US$ 9.996 dólares da época (suficiente para comprar 5 PCs, seu concorrente, fabricados pela IBM), cerca de US$ 23.666 dólares atuais, mais de 60 mil reais!



Apple Lisa


Fruto de um investimento de cerca de US$ 150 milhões, a conta do Apple Lisa acabou dando prejuízo. Embora fosse melhor do que os concorrentes, ele não obteve sucesso considerável, ainda mais tendo em vista que o Apple II ia de vento em popa na mesma época. No total, foram produzidas cerca de 100.000 unidades em dois anos, sendo a maior parte delas vendidas com grandes descontos, e muitas vezes abaixo do preço de custo, por exemplo, um lote de 5.000 unidades que foi vendido para a Sun em 1987, após a descontinuação do modelo.

Como lado positivo, podemos dizer que o desenvolvimento do Lisa serviu de base para o Macintosh, um dos maiores sucessos da época e da própria Apple. Lançado em 1984, falou-se na época que ele tinha vindo para ameaçar o monopólio dos PCs. A configuração, similar a dos PCs, tinha processador de 8 MHz, 128 KB de memória e um monitor de 9 polegadas. A grande arma do Macintosh contra seu concorrente era o MacOS 1.0 (outro resquício do Lisa, porém otimizado para consumir muito menos memória). Seu sistema operacional inovador, diferentemente do MS-DOS era totalmente feito para funcionar com interface gráfica e mouse, facilitando muito a operação das máquinas.

O Macintosh foi o primeiro dos sucessos de marketing da empresa, característica que se tornaria uma caravterística e pautaria os lançamentos da marca até hoje. No superbowl XVIII, em janeiro de 1984 a Apple pagou uma enorme quantia de dinheiro para ter o anúncio abaixo veiculado para todos os Estados Unidos através de três redes nacionais ABC, CBS e NBC, além de cinquenta estações locais. O A ideia do comercial foi baseada na obra caótica “1984” do autor George Orwell e dirigida por Ridley Scott. Segundo a Tv Guide este é o maior comercial de todos os tempos.

Em 1985, à medida que o Macintosh tornava-se um sucesso de vendas, Steve Jobs, que tinha recebido a missão de reunir e liderar as equipes do Macintosh e do Lisa tornava-se cada vez mais autoritário e maldoso. Sua personalidade difícil e suas excentricidades já começavam a criar problemas internos, o que levou a empresa a cogitar cada vez mais seu afastamento.

Em maio do mesmo ano com o esfriamento das vendas do Macintosh, o conselho de administração da empresa decidiu afastá-lo da equipe. A empresa deu ainda uma oportunidade para que Jobs ficasse com o título de presidente do conselho e no papel de visionário dos produtos, sem o controle de qualquer divisão ou encargo operacional. No entanto, dotado de uma megalomania típica dos grandes líderes, ele não aceitou e agora estava fora da empresa que há quase 10 anos atrás havia sido um dos fundadores.

Steve Jobs foi demitido de sua própria companhia e agora saía para fundar uma outra empresa de computadores, a NeXT. No ano seguinte, ele compraria a Pixar da Lucasfilm, que anos mais tarde ficaria famosa por apresentar uma nova linguagem de animação 3D para desenhos animados. A Pixar revolucionária a história do cinema até ser comprada pela Walt Disney em 2006 por 7,4 bilhões de dólares. 

Tem muito mais. Aguarde!