Para criar um negócio de sucesso realmente grande, você precisa criar um monopólio temporário que, de acordo com Peter Thiel, no seu livro “de 0 a 1″, acontece quando você cria um mercado novo. E para conseguir isso, o melhor é parar de pensar em empreender, investir em tecnologia e buscar tendências sobre como nós (pessoas) pensamos, nos comportamos e e compramos. Com isso, seguem algumas megatendências que podem te ajudar a pensar no seu negócio este ano:
1) Transição de hierarquias para redes integradas baseadas em tecnologia.
Uma das melhores referências de 2014, se não a melhor, foi o vídeo de Fred Wilson, investidor da Union Square Ventures, um dos investidores de Twitter, Tumblr, Foursquare, Zinga, entre outros. Segundo ele, uma das megatendências que vivemos atualmente é a transformação de hierarquias burocráticas em redes tecnologicamente integradas. Por exemplo: jornais impressos, cujas notícias eram hierarquizadas por algumas pessoas como editores e repórteres, agora foram substituidos pelo Twitter, rede em que você consegue informações rápidas e em tempo real. Outro exemplo é o Youtube, que desbancou o modelo hierárquico de divulgação de vídeos por estúdios, assim como o Soundcloud substituiu o papel de grandes gravadoras. A tendência começou em entretenimento, mas já afetou hotéis (AirBnB), financiamento (Kickstarter) e ensino (Duolingo), entre outros setores.
2) Desacoplamento e separação (unbundling)
Se antes para se especializar em determinado serviço ou área você precisava fazer uma universidade durante quatro ou cinco anos, hoje você pode comprar cursos a la carte, só os que te interessam, via Coursera, por exemplo. A ideia é que existem grupos de “coisas” ou “serviços” que podem ser desagrupados de acordo com o interesse de quem vai comprar. Música é um outro exemplo: se antes você precisava comprar um CD ou um vinil, hoje você pode comprar uma música individual no iTunes, ou baixar em mp3. Ou seja, você pode desacoplar serviços e produtos de um grupo maior e vender separadamente, observando a demanda e o interesse do seu público.
3) Todos nós estamos conectados o tempo todo
Fred Wilson dá um exemplo bem claro: se você fosse forçado a escolher entre seu laptop e seu smartphone, a enorme maioria das pessoas escolheriam o smartphone. A única coisa que você não consegue fazer via smartphone hoje em dia é escrever um livro ou programar softwware. Hoje, o mundo tem uma rede de pessoas conectadas e isso muda tudo: afeta mercados como o de transporte (Uber, EasyTaxi), pagamentos (Square, Apple Pay) e até o de namoro (Tinder). Outro ponto que temos que observar é que o próximo bilhão de pessoas que vão acessar a internet pela primeira vez vão fazer isso via smartphone e talvez nunca tenham um PC.
4) Oportunidades geradas pelo atual cenário de estagflação
“Abrasileirando” um pouco as tendências mundiais, os empreendedores brasileiros devem considerar que o cenário econômico vai criar, ao mesmo tempo que dificuldades, algumas possibilidades de negócio. Os protestos de junho/2013 e a Primavera Árabe mostraram que a população jovem da classe média brasileira não está disposta a perder suas conquistas consideradas inatas. Ela está acostumada a ter iPhone, viajar para o exterior e ter um personal trainer, por exemplo. Nos próximos anos, esses serviços e “direitos adquiridos” estarão ameaçados. Neste sentido, qualquer coisa que permita “salvar” a classe média e reverter esse cenário com aumento de eficiência e melhoria da relação das pessoas com esses serviços, ou seja, que permita que elas consigam ter os mesmos benefícios com o mesmo efeito e menos dinheiro, pode fazer bastante sentido.
5) Desfragmentação
Outra megatendência brasileira é praticamente o oposto do desacoplamento citado por Wilson, mas em um outro nível de abstração. O Hotel Urbano, por exemplo, conectou um mercado totalmente fragmentado, de hotéis, e ofereceu um serviço completo com eficiência. O Enjoei, por sua vez, pegou o mercado de vendedores individuais e juntou em um lugar só. A questão aqui não é criar um marketplace, mas buscar os mercados fragmentados certos. A visão do todo é bastante importante e faz a diferença.
Para os empreendedores seriais de tecnologia brasileiros “que já viram a morte de perto”, ou seja, que já quebraram ou tiveram grandes dificuldades, a questão é entender que o movimento de Lean Startup propôs um darwinismo empreendedor que ajuda a aumentar sua chance de sucesso por meio de empirismo e iterações rápidas, mas não substitui a necessidade de escolher com sabedoria qual mercado entrar. As críticas atuais são que estratégia é tática e não substitui a busca por oportunidades realmente grandes de inovações em geração de mercado. Para complicar, a reflexão sobre o recente ciclo de venture capital no Brasil leva à necessidade de entender bem o paradoxo que a oferta de financiamento aqui é muito menor e que o modelo de crescimento rápido sem preocupação com monetização ou busca de break even rápido é um jogo para poucos.